quarta-feira, agosto 03, 2011

É preciso que se mate e que se morra.

Existe uma faca aqui no meu peito, alguém retire, por favor, gritava a moça. Poucos segundos depois toda a sua cama e sua roupa estavam repletas de sangue e ela se contorcia e gritava mais e mais forte: alguém retire essa faca fincada no meu peito; parece que ninguém ouvia, pois nada faziam. O sofrimento daquela jovem vinha de outro mundo e vendo aquela cena, parou, olhou dentro de si e começou a sentir as vibrações e juntar forças de seu corpo em agonia, foi quando fechou os olhos e viu que era a sua própria mão que fincava cada vez com mais força aquele objeto em seu peito, ela queria inconscientemente matar, o desejo reprimido de seus ancestrais era algo que tomava seu corpo, assim como é capaz de mudar toda uma história de vida. Muito era o que queria saber, ela não parava um instante de pensar, era mecânico, era doloroso, não deixava que ninguém falasse, preservava-se na sua dor. Animou-se misteriosamente na sua frente um relógio com uma aparência meio cansada, ele disse que vinha para conversar com ela, que as coisas não eram bem assim, ela deveria parar e prestar atenção nos fatos, pois ele próprio já sofrera muita desilusão das pessoas que dizem que faz o tempo parar e que a vida toda ele nunca teve férias, um só segundo que fosse; uma coisa é o que nos dizem para que inventemos um mundo mais confortável no imaginário, outra coisa é o que de fato acontece, ele como relógio sabia sua função e que ela como moça sabia também o seu papel na sociedade e que deveria tirar de si própria esta faca, mesmo que sangrasse, pois dotados de matéria sofrem. A moça levantou-se, mas não teve coragem de retirar, tinha se acostumado, ás vezes isto acontece, aceitamos coisas que não fazem parte de nós por hábito. Digo agora que a moça soltou a mão do objeto cortante e segurou a mão do relógio, fez do tempo seu amigo, matando assim a o que a feria , deixando-se ser ajudada e percebendo que existem várias formas de se matar, mas que é necessário para poder recriar-se a cada dor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário