sábado, dezembro 11, 2010

domingo, dezembro 05, 2010

Madrigal melancólico



O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha

Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai

O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida!


Manuel Bandeira

terça-feira, novembro 30, 2010

Uma história de borboletas - Caio Fernando Abreu

''É assim mesmo eu disse. O mundo fora de minha cabeça tem janelas, telhados, nuvens e aqueles bichos brancos lá embaixo. Sobre eles, não se detenha demasiado, pois correrá o risco de transpassá-los com o olhar ou ver neles o que eles próprios não vêem, e isso seria tão perigoso para ti quanto para mim violar sepulcros seculares, mas, sendo uma borboleta, não será muito difícil evitá-lo: bastará esvoaçar sobre as cabeças, nunca pousar nelas, pois pousando correrás o risco de ser novamente envolvida pelos cabelos e reabsorvida pelos cérebros pantanosos e, se isso for inevitável, por descuido ou aventura, não deverás te torturar demasiado, de nada adiantaria, procura acalmar-te e deslizar pra dentro dos tais cérebros o mais suavemente possível, para não seres triturada pelas arestas dos pensamentos, e tudo é natural, basta não teres medos excessivos. trata-se apenas de preservar o azul das tuas asas.''
Um peixe azul ia pulando nas curvas do oceano tempestuoso
movimentando sua calda carnosa com bailada sutis
girando nas ondas que vem a quebrar na rochas com algas da beira-mar
Talvez seja fácil a vida encantar tendo um abrigo para se guardar.

Na caixinha de veludo no fundo do armário,
esconde-se a bailarina e os poemas de amor
cantadas com rimas, mas sem bramir
estimulados por um flautista encantador de corações.

No ermo da terra encontrei o tal peixinho
que agora vinha mais devagarinho
pensei em oferecer parte minha como sua morada
mas pertence ao flautista todo meu ser.


Manoela Paschoal

''Os adultos não se lembram mais de como era
ser criança.
Mesmo quando dizem que sim...
Eles não lembram. Acredite!
Esqueceram tudo.
Como o mundo parecia grande.
Que podia ser difícil subir numa cadeira.
Como era sempre ter que olhar para cima?
Esqueceram.
Não se lembram.
Você também vai esquecer.
Ás vezes, os adultos falam como era boa
a sua infância.
Eles até sonham em voltar a ser criança.
Mas com o que eles sonhavam quando eram crianças?
Você sabe?
Acho que eles sonhavam com o momento em que finalmente seriam adultos.''

Será você produto do seu medo?

Para aprender a sonhar

Os navios bravios carregados de sonhos descarregam-se todos no selar da noite,no rugir do vento, no fechar de olhos. Se você assim como eu é portador de um sonho fracassado, saiba que nenhum dos produtos dos navios que desatracam nessa ilha tem garantia, mas se você for amigo do marujo, molhar a sua mão e der biscoito ao seu papagaio terá a chance de trocar seu sonho fracassado por um novo, mas em tamanho menor. Sabemos todos que sonhos são difíceis de cultivar e com sonhos não se pagam, não se compram os sonhos, se recebem de herança.
Outro dia encontrei um pequenino desses embaixo da árvore, ele me disse que os sonhos quando se tornam adultos são tão belos que chegam a cegar os olhos, mas que nem todos os sonhos são bons e que muitos morrem no trajeto, disse-me também que para ele o seu sonho era como uma sombra que de acordo com a luz parecem muitas, mas que na escuridão torna-se tudo, naturalmente me senti curiosa e sentei-me ao seu lado, cruzei minhas pernas e com um ar fanfarrão perguntei-lhe qual era o tal sonho, ele virou a cabeça perto do meu rosto e com um ar igualmente brincalhão me disse que o sonho dele estava em seus olhos e se eu não conseguia vê-lo mesmo assim será bem provável que suas palavras não me dissessem nada a mais e que igualmente era assim para todas as pessoas; depois de algum tempo percebi que estava só embaixo daquela árvore.



Nota: Estou fazendo uma faxina de papéis e encontrei esse texto de 2008, resolvi postar e eu não quis modificá-lo, apesar de tudo, representa bem os meus pensamentos do ano em que foi escrito.

sábado, junho 19, 2010

5º motivo da rosa

Antes do teu olhar, não era,
nem será depois- primavera.
Pois viemos do que perdura,

não do que fomos. Desse acaso
do que foi visto e amado: - o prazo
do Criador na criatura...

Não sou eu, mas sim o perfume
que em ti me conserva e resume
o resto, que as horas consomem.

Mas não chores, que no meu dia
há mais sonho e sabedoria
que nos vagos séculos do homem.

Cecília Meireles

terça-feira, junho 15, 2010

Perto do coração selvagem


‘’É necessário certo grau de cegueira para poder enxergar determinadas coisas. É essa talvez a marca do artista. Qualquer homem pode saber mais do que ele e raciocinar com segurança, segundo a verdade. Mas exatamente aquelas coisas escapam á luz acesa. Na escuridão tornam-se fosforescentes. - Pensou um pouco. Depois, apesar da concessão prolongar-se demais, anotou: Não é o grau que separa a inteligência do gênio, mas a qualidade. O gênio não é tanto uma questão de poder intelectivo, mas da forma por que se apresenta esse poder. Pode-se assim ser facilmente mais inteligente que um gênio. Mas o gênio é ele. ’’

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Quão feio pode parecer aos outros assumir-mos o que somos publicamente?
''Um belo dia resolvi mudar e fazer tudo o que eu queria fazer.''

terça-feira, fevereiro 16, 2010



Ah, como eu gosto!



...Se eu te troquei não foi por maldade, amor, veja bem, arranjei alguém chamado saudade.

nakayoshi dango te wo tsunagi ookina marui wa ni naru yo
machi wo tsukuri dango boshi no ue minna de waraiau yo
usagi mo sora de te wo futtemiteru dekkai otsukisama
ureshii koto kanashii koto mo zenbu marumete




dango dango dango dango dango daikazoku!





Tudo é melodia.
Danço eu, dança você na dança da solidão.

domingo, fevereiro 14, 2010

Quem seríamos

Veio um instante, partiu de novo,
Leve, sem nome...
Para que nomes? Era azul e voava...
No véu das horas punha o seu motivo.
Partiu. E nem
Ficou sabendo
Como eu acaso me chamava.




Mário Quintana

Se ela faz com ele vai fazer comigo, e vai fazer comigo exatamente igual!



Seca, em espirais coloridos impulsionando com dificuldade o ar até os pulmões, de olhos fechados, algo pulsa dentro dela e isto é forte e constante, ao mesmo tempo em que sente esse golpe no estômago as pernas vão ficando fracas e moles, parece que não respondem ao seu chamado desesperado para que elas despertem e continuem a andar pela praia, permanece a esperar, esperando a dor infindável passar, olho nos seus olhos que sorriem diferente e me sinto envergonhada, é como tirar uma máscara da bolsa e nessa máscara tivesse a sua imagem aos cinco anos, encolhendo, logo a pouco vão surgir as fraldas, não quero que ela tema, em um grito ensurdecedor dentro de mim escuto o que dizem dentro dela, eu a vejo, temos uma conexão, de tal forma que seus olhos violeta refletem nos meus olhos verdes as palavras que o vento assobia, vejo os braços que usam uma camisa azul (a minha preferida), braços estes que agora a envolvem, ah, como gosto do calor desses braços, eles temem que o empalidecer venha a piorar, fico feliz que ele esteja lá, já que eu própria não posso fazer, então a observo, a desejo, enquanto tenta guardar toda essa dor para aproveitar depois, eu sei que ela sabe que estou vendo-a, eu sei pois para mim ela é tudo. Logo após não preciso mais ser forte, então as lágrimas salgadas começam a dançar no meu rosto e aos poucos elas vão descendo e molhando toda a camisa vermelha que se transforma num rio de sangue que escoa pelas ruas e aos poucos toma tudo. O momento se esvai o sol também, vira soez, vira vazio, fica sem ele e fica sem mim, o vazio que a existência traz só ele pode explicar na vida dessa moça de olhos cor de violeta.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010


''Nada sei dessa vida, vivo sem saber.Nunca soube, nada saberei, sigo sem saber...''

Onde está a honra e a nobreza?

Os sofrimentos do jovem Werther


''Ah! não são as grandes e raras revoluções do universo esses tremores de terra que engolem as vossas cidades, não é tudo isso que me compunge e causa impressão: o que mina meu coração é esta força destruidora e oculta que existe em todos os seres. A natureza não forma nada que por si mesmo não se consuma e a todas as coisas que lhe estão próximas. É assim que eu vacilo no meio de minhas inquietações. O céu, a terra, as forças diversas que se movem ao meu redor, apresentam-se a mim como um monstro ocupado eternamente em devorar e animar de novo!


Quando nos abandonamos a nós mesmos, tudo nos abandona.''
Hoje eu te mando um beijo que tenha como essência o pólen retirado da papoula pelo beija-flor de forma terna quase que materna para que reviva os sentimentos primeiros, onde não exista a dor do abandono, apenas a alegria do novo, para que amanhã seja menos real e tenha mais magia. Espero que minha lembrança te faça sorrir, pois eu estou sorrindo.